sábado, 3 de maio de 2014

Istanbul


 

 


- Se não fossem as chaminés…

- Deixa-as estar… também lá estão o toldo e a grade! O velho e o novo, entendes?… Vamos!                

- Se não fossem as nuvens…

- Deixa as nuvens que chegam ao céu… Elas também têm companhia… Anda! Vamos!

- Se da máquina ecoassem estes cânticos de encantar…

- Isso é que era! Vamos! Estão à nossa espera!

 

 


- Podia-se tomar banho aqui?

- Ó Cristo! Mas tu não estiveste a ouvir?!

- Como é que eu consigo ouvir no meio desta escuridão?!...




- Singer?... O que é isso que estás a fotografar? É um cantor de pedra?

- Achas?!... Não vês que é um tear antigo? É, não é?

- Não. Era uma máquina de costura.

- Tenho fome…

 


- Não ficou como eu queria…

- Porque não aumentaste o Iso nem abriste o diafragma…

- Se a fotografia cheirasse… se pudéssemos ver os cheiros, aí, sim, abriria o diafragma à força toda…

-Ya… OK… Anda! Não os podemos perder de vista!...

 

 

 


- Olha ali!...

- O quê?! Onde?!

- Ali! Já passámos… Ali, ali! Tira uma foto! Tira a foto!...

- Ah… que espetáculo… tipo… isto é brutal! Espera aí por mim… Onde é que eles estão? Estás a vê-los?...

- Tira uma ao teto! Daqui a nada estaremos bem por cima deste Bazar, nos telhados que o cobrem… Bebe o perfume destas cores e guarda tudo muito bem na tua máquina. Mas agora vamos, que não os podemos perder de vista…

 


- Tem muita luz, mas Istanbul é mesmo assim.

- Vê-se mesmo que não percebes nada de fotografia! Vamos!

 
 


- Onde é que vamos jantar? Falta muito? Estamos cheios de fome…

- Olha para cima. Vê-las? Caminha ao longo da galeria, observa umas e depois outras, ouve e aprecia as conversas que se cruzam. Vai!

- Já fui e já voltei! Fiquei tonto…

- Dervishemente! Vem! Não podemos perdê-los de vista…

- Tenho fome…



- As nossas igrejas podiam ser assim…

- Claro… e onde é que punhas o sino, ó esperto?!




- Ainda não percebi muito bem… os minaretes apontam para o céu, mas os candeeiros caminham em direção ao chão…

- Não percebes nada de turco…


 


- Então… se não era para tomar banho, era para quê? Para as mulheres poderem lavar a roupa à vontade, sem terem que estar tapadas da cabeça aos pés?!...

 

5 comentários:

  1. O mais curioso foi teres partilhado este belo exercício de múnus maternal precisamente no Dia da Mãe

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  2. Excelente minha amiga!

    Conseguimos sentir os cheiros, a multidão, os pré-conceitos … e a realidade dos estômagos dos nossos adolescentes :-)
    Beijo Grande

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  3. Muito bonito e inspirado. Leva-nos pela mão! Leva-me pela mão, queridinha!

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